Entrevista com José Luiz Pedersoli sobre gestão de risco e patrimônio cultural

publicado: 15/07/2013 16h21,
última modificação: 15/07/2013 16h21

Ministrante do curso Gestão de Risco ao Patrimônio Musealizado Brasileiro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC), entre os dias 8 e 12 de julho, José Luiz Pedersoli Junior é químico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Mestre em Química de Polímeros, com ênfase em materiais celulósicos e aplicações na área da conservação patrimonial, pela Universidade de Helsinki (Finlândia).

Pedersoli coloca a gestão de risco como área estratégica em torno de acervos musealizados

Morou durante muitos anos na Europa, inicialmente em Amsterdã, quando trabalhou como cientista da conservação no Instituto Holandês do Patrimônio Cultural, e depois em Roma, no Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração do Patrimônio Cultural (ICCROM).

Voltou ao Brasil com uma importante experiência na área da ciência dos materiais aplicada à preservação patrimonial, mais especificamente à conservação de acervos de papel e materiais relacionados, com vários trabalhos científicos publicados em revistas especializadas.

Essa experiência profissional inclui também o desenvolvimento, coordenação e ensino em cursos nacionais e internacionais voltados à capacitação profissional no setor patrimonial.

O químico respondeu por e-mail a três perguntas feitas pela Assessoria de Comunicação do Ibram.

Qual a importância da implementação de um plano na área de gestão de riscos para os museus?

A gestão ou gerenciamento de riscos constitui ferramenta eficaz para aprimorar a tomada de decisões dirigidas à preservação do patrimônio cultural. Sua utilização fornece uma visão abrangente dos diversos tipos de risco para esse patrimônio, desde eventos emergenciais e catastróficos até os diferentes processos de degradação que ocorrem de forma mais gradual e cumulativa.

A partir da identificação e análise sistemática desses riscos, é possível estabelecer prioridades de ação e alocação de recursos para mitigá-los. Estratégias sustentáveis podem então ser estabelecidas para minimizar impactos negativos sobre o objetivo comum dos museus de transmitir seus acervos para as gerações futuras com a menor perda de valor possível. Otimizando o uso dos recursos disponíveis, tipicamente limitados, para a preservação, segurança e fruição dos acervos museológicos, a gestão de riscos contribui para maximizar a utilidade e benefícios sociais dos mesmos ao longo do tempo.

A implantação do gerenciamento de riscos na comunidade de museus do Ibram também contribuirá de forma significativa para harmonizar e incrementar a eficiência de iniciativas e esforços já existentes voltados à salvaguarda de seus acervos, assim como para fomentar sinergias em ações futuras, proporcionando uma plataforma de trabalho bem estruturada, uma linguagem comum e uma metodologia adequada ao compartilhamento e integração dos conhecimentos e experiências específicos detidos pelos diferentes museus. O uso dessa ferramenta estimula, ainda, a integração interdisciplinar e intersetorial com profissionais e instituições de áreas afins.

Diante do contexto internacional, como você avalia a atuação dos museus brasileiros?

A atuação dos museus brasileiros na área da gestão de riscos e segurança de seus acervos reflete, a meu ver, um universo bastante heterogêneo, com algumas instituições já significativamente avançadas nesse aspecto e outras onde falta ainda implementar requisitos básicos para a proteção do acervo frente aos riscos que os ameaçam.

Observo uma tendência positiva no sentido da conscientização e adoção crescente de medidas de conservação preventiva, o que vem sendo fortalecido com iniciativas de capacitação como este curso realizado pelo Ibram. Contudo, para lograrmos uma melhoria significativa contemplando todo o patrimônio musealizado brasileiro, seria necessário amplificar esses esforços e proporcionar os recursos para que as medidas de segurança necessárias possam ser implantadas de forma sustentável.

Quais as etapas fundamentais que uma instituição precisa para iniciar a elaboração de uma Plano de Gerenciamento de Riscos para o seu acervo?

Antes de mais nada, é fundamental haver vontade política para fazê-lo e uma definição bem clara da missão e dos objetivos da instituição no tocante ao uso do acervo sob sua guarda. Outro fator essencial é o envolvimento e participação proativa de toda a equipe do museu ao longo de todo o processo.

Obviamente, devem estar disponíveis os recursos mínimos para a implantação das medidas propostas no decorrer da execução do Plano. É essencial garantir, desde o início, que o Plano será um documento “vivo” na instituição. As etapas para a elaboração do Plano envolveriam, primeiramente, a constituição formal de uma equipe ou grupo de trabalho na instituição com papéis e responsabilidades bem definidos, com tempo disponível para a execução do projeto.

Observados esses aspectos, temos sugerido que o desenvolvimento do Plano de Gerenciamento de Riscos seja estruturado segundo as etapas consecutivas do processo de gerenciamento descrito na norma técnica ISO 31.000:2009, que incluem: 1) estabelecer o contexto, 2) identificar os riscos, 3) analisar (quantitativamente) os riscos, 4) avaliar e priorizar os riscos, 5) tratar (reduzir) os riscos segundo as prioridades estabelecidas.

Todas essas etapas são permeadas pela comunicação e consulta com todas as partes interessadas e atores relevantes ao processo, assim como pelo monitoramento e revisão dos aspectos relevantes em cada uma delas.

É importante lembrar que o gerenciamento de riscos é uma processo contínuo, visando à eliminação ou redução e contenção dos riscos para o acervo a níveis aceitáveis para a instituição. Dessa forma, é importante que essa ferramenta seja integrada de forma permanente ao sistema de gestão da organização para garantir seu uso continuado e, assim, alcançar com sucesso os objetivos propostos.

Edição: Ascom/Ibram
Foto: Divulgação

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