Veja o passo a passo do processo de identificação das ossadas

publicado: 15/04/2011 12h12,
última modificação: 18/04/2011 15h05

Histórico

  • Depois da execução brutal de Tiradentes, único condenado à morte, enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792, os outros inconfidentes foram exilados para Portugal e África. Entre eles estavam os mineiros José de Resende Costa (pai), João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa.
  • Os três foram enviados para Lisboa em junho de 1792. De Portugal, seguiram para o degredo na África — dois para Cabo Verde e outro (João Dias da Mota) para a Vila de Cacheu, Guiné Portuguesa, uma região inóspita onde viviam algumas tribos.
  • Conforme documentos históricos, Domingos Vidal de Barbosa e João Dias da Mota faleceram logo depois, em 1793. José de Resende Costa, em 1798. De acordo com informações prestadas pelas tribos, os três brasileiros foram enterrados ao lado de uma pequena igreja da vila.
  • Em 1932, os despojos foram exumados na Vila de Cacheu, a pedido do cônsul brasileiro em Dakar, e identificados como sendo dos três degredados. A identificação, no entanto, baseava-se em informações prestadas por uma indígena, que havia ouvido de seus pais e avós a história de que naquele local estavam enterrados três brasileiros exilados.
  • Os restos mortais foram repatriados para o Brasil, ficando no arquivo histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Eles foram colocados juntos em uma única urna, em condições precárias.
  • Em 1936, o presidente Getúlio Vargas assinou decreto determinando o repatriamento dos despojos de todos os inconfidentes mortos nos degredos de Portugal e África. No mesmo ano, as urnas de outros 13 inconfidentes chegaram ao Rio de Janeiro e, pouco depois, foram enviadas para Ouro Preto. Em 1942, seria criado o Panteão dos Inconfidentes, para onde foram então levados. 
  • As ossadas dos degredados exumados em Cacheu, porém, por motivos desconhecidos, não foram juntadas às demais em Ouro Preto, no Panteão. Elas permaneceram no arquivo do Itamaraty, o que aumentou as dúvidas dos historiadores sobre a identidade dos mortos.
  • Só em 1992 as ossadas dos três chegaram a Ouro Preto, ficando na Igreja Antonio Dias até que fosse realizada pesquisa sobre sua identidade. Desde 1980, o diretor do Museu, Rui Mourão, e a equipe de pesquisadores da instituição vinham estudando a autenticidade das ossadas.
  • O diretor do museu solicitou a colaboração científica da equipe do Curso de Pós-Graduação do programa de Odontologia Legal e Deontologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para examinar as ossadas.
  • Em junho de 1993, a equipe da Unicamp, chefiada pelo professor doutor Eduardo Daruge, recebeu o material e começou a separar as peças ósseas. Havia fragmentos de ossos, terra, pedras, pedaços de jornal, fios de cabelo e outros materiais. Os materiais foram separados e armazenados
  • Analisando cada fragmento de osso pela cor, espessura, relação de continuidade com outras peças encontradas e características anatômicas, a equipe conseguiu separar materiais referentes a três pessoas diferentes.
  • As peças ósseas de cada um foram submetidas a exames de densitometria óssea, exame radiográfico que mede a densidade dos ossos e pode indicar a idade do organismo.
  • No caso dos inconfidentes, havia grande diferença de idade entre eles. Resende Costa nasceu em 1728. João Dias da Mota, em 1744, e Domingos Vidal de Barbosa, em 1761. Os resultados indicados pela densitometria coincidiam com as idades estimadas dos inconfidentes, ao morrer.

 Reconstituição facial

  • Havia uma grande quantidade de fragmentos ósseos de um crânio que, pelas suas características anatômicas, deveriam pertencer à porção cefálica de um único indivíduo. As outras duas ossadas possuíam apenas alguns fragmentos ósseos da calota craniana, impossibilitando a sua reconstituição.
  • A equipe conseguiu reconstruir o crânio com a montagem de mais de 140 fragmentos de ossos. As partes perdidas na terra durante a exumação foram reconstruídas em cera branca esculpida. Após os estudos radiográficos e de densitometria óssea, a equipe concluiu que o crânio pertencia a José de Resende Costa.
  • Uma tomografia computadorizada possibilitou a reconstituição da imagem do crânio em três dimensões. Com a colaboração da University College London, da Inglaterra, obteve-se a imagem computadorizada da possível face do indivíduo. Para isso, usou-se um programa especial para reconstituição facial.
  • A imagem foi comparada à face de um trineto de Resende Costa, e percebeu-se a coincidência de vários caracteres fisionômicos, como tipo facial, forma e disposição da porção nasal, forma e disposição das regiões orbiculares, forma e disposição da região inferior da face e outras características que indicaram grande semelhança entre os dois.

 O Museu da Inconfidência

Localizado na antiga Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto, o museu foi inaugurado em 1944 para preservar, pesquisar e divulgar objetos e documentos relacionados à Inconfidência Mineira. No Museu está o Panteão dos Inconfidentes, monumento criado em 1942. O Panteão tem 14 lápides funerárias, 13 delas ocupadas pelas ossadas dos inconfidentes repatriadas da África e uma vazia, dedicada aos participantes cujos corpos não foram localizados. Nesta lápide serão sepultadas as ossadas de José de Resende Costa (pai), João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa. O Museu integra a estrutura do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura).

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