Com quantas histórias se constrói a memória de um museu? No caso dos museus ligados ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em Goiás, elas são muitas.
Com o tema Narrativas da memória: Goiás entre museus e muros simbólicos, Stélia Braga, diretora das três unidades Ibram no Estado, apresentou em Brasília (DF), na terça-feira (19), um recorte sobre como os museus também constroem suas memórias a partir da experiência local.
O Museu das Bandeiras, o Museu de Arte Sacra da Boa Morte e o Museu Casa da Princesa, respectivamente nas cidades de Goiás e Pilar de Goiás, ocupam edificações históricas nas cidades e, portanto, trazem consigo memórias que acabam por ser incorporadas e reinterpretadas.
Novas apropriações
O edifício do Museu das Bandeiras, por exemplo, que foi Casa de Câmara e Cadeia até o começo do século XX, esteve recentemente ocupado por uma ação de “cinema expandido”: a proposta foi levar ao público um ambiente imersivo, no qual se destacaram os temas do aprisionamento e do sofrimento. Saiba mais.
Stélia Braga chama de “novas apropriações sociais do patrimônio cultural” ações desse tipo, apontando que um olhar contemporâneo para o museu deve abarcar tanto questões relativas à ocupação bandeirante na região Centro-Oeste quanto “enfatizar as contribuições dos diversos segmentos sociais presentes neste processo”.
Já o Museu de Arte Sacra da Boa Morte tem também sua peculiaridade: mesmo estando sob a direção do Ibram, existe uma relação estreita com a Diocese de Goiás, por ter absorvido o acervo do antigo Museu da Cúria e ocupar a antiga Igreja da Boa Morte.
Peças do acervo são, ainda hoje, utilizadas em eventos religiosos da cidade. Diante de um acervo sacro-cristão, o museu visa também contribuir para a “promoção da dignidade humana, universalização do acesso e respeito à diversidade cultural e religiosa”.
Doações de moradores
“A memória de uma instituição fala muito da sua representatividade na comunidade”, acredita Stélia. E isso se adequa ao papel que o Museu Casa da Princesa ocupa em Pilar de Goiás.
A casa setecentista, que já foi morada de ex-combatente da Guerra do Paraguai e escola “Mobral”, ao se tornar museu ganhou também um personagem inesquecível: o zelador Antônio Gomes ‘Tição’. “Em seu trabalho de conformação do Museu Casa da Princesa montou coleções, promoveu o museu e manteve a manutenção da Casa”, diz nota do Ibram quando do seu falecimento ano passado.
Um ponto a mais na relação com a comunidade está na constituição do acervo. Desde os tempos de ‘Seu Tição’, a coleta de objetos e documentos entre os moradores tornou-se corriqueira. Com o volume de doações ao longo dos anos, o museu fez um levantamento recente do acervo enquanto pensa em uma nova expografia.
“É necessário estabelecer um diálogo com os diversos segmentos para ampliarmos nosso papel social. Esse é um desafio que enfrentamos diante da nossa própria memória institucional”, apontou Stélia ao final.
A atividade integra a programação da 11ª Primavera dos Museus, que acontece até domingo (24) em todo o Brasil.
Texto: Ascom/Ibram
Fotos: Divulgação