Os três sinos que compõem o campanário do antigo Convento Franciscano de Nossa Senhora dos Anjos serão temporariamente removidos de seu local de origem. A medida coordenada pelo Museu de Arte Religiosa e Tradicional (Mart/Ibram) está programada para acontecer nos dias 20, 21 e 22 de janeiro de 2020, entre as 08 e as 18 horas. “Em nosso trabalho regular de conservação, que envolve o monitoramento da integridade dos bens expostos à ação do tempo, detectamos o desgaste na estrutura de sustentação dos sinos. Portanto, a medida possui o caráter preventivo, para assegurar a integridade desses bens culturais”, explica a Profa. Dra. Carla Renata Antunes de Souza Gomes, Diretora do Mart/Ibram.
O processo de retirada dos sinos será executado por um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, o sineiro Manoel Cosme dos Santos, ou Manoel dos Sinos, como é nacionalmente conhecido entre os estudiosos da arte sacra. No seu currículo estão trabalhos realizados para o Santuário Nacional de N. S. Aparecida (SP), o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro (RJ), a Catedral de Petrópolis (RJ) e a Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé (RJ), apenas para citar alguns. O trabalho, complexo, contará com a experiência de Manoel dos Sinos e sua equipe e envolverá a proteção da fachada do antigo Convento e do alpendre, o destelhamento do campanário para o içamento dos sinos maiores e o transporte dos três sinos retirados para o interior do Museu, além do diagnóstico do estado de conservação das peças que auxiliará a construção do projeto de restauração.
Por estarem na área externa do edifício – expostos aos ventos, às chuvas e à umidade –, com o tempo, houve a corrosão das peças metálicas que fixam os sinos nas coroas de madeira. Em 2017, com vistas a proteger os dois sinos maiores que adornam os vãos do campanário, o Mart/Ibram providenciou um escoramento provisório, seguindo a orientação do Escritório Técnico da Região dos Lagos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mas, segundo a museóloga Aline Cadaxo, responsável pelo acervo, os danos nos sinos se intensificaram nos últimos anos, exigindo a medida extrema da retirada com vistas a sua recuperação. Impacto semelhante, provocado pela ação do tempo e das condições climáticas, foi observado pelo arquiteto responsável pela adaptação das ruínas do Convento para o Museu no final da década de 1960. Em relato, o arquiteto Edgard Jacintho da Silva falou dos constantes ventos da região que carregavam fragmentos que funcionaram como um abrasivo nas paredes do Convento e contribuíram para que o monumento se tornasse ruína na primeira metade do século XX.
A diretora Carla Renata explica que o objetivo do Museu de Arte Religiosa e Tradicional é realizar a intervenção de restauro dos sinos para sua realocação no campanário. Porém, a complexidade do processo exige que ele seja fracionado em várias etapas, por envolver peças cujo peso individual pode chegar a uma tonelada. Nesse primeiro momento, após a retirada dos sinos do seu lugar de origem, eles ficarão resguardados no Museu, em local adequado orientado pelos técnicos Iphan, e poderão ser visitados de perto pelo público. Esta também será a oportunidade para a obtenção de informações sobre os objetos, visto que muitos sinos trazem o nome do responsável e a data da fabricação registrados em sua estrutura. No campanário, o seu acesso era difícil e impossibilitava os pesquisadores identificarem a existência de dados.
Os sinos integram a estrutura do antigo Convento de Cabo Frio, preservada como patrimônio nacional pelo Iphan, em 1957. O Convento de N. S. dos Anjos começou a ser construído em 1686 e as atividades religiosas dos frades franciscanos no local iniciaram em 13 de janeiro de 1696. Com a criação do Museu de Arte Religiosa e Tradicional, em 1968, por meio de convênio com a Arquidiocese de Niterói, o Governo Federal assumiu a gestão do espaço com enfoque na sua preservação e difusão. O acordo com a Mitra de Niterói, proprietária do imóvel, foi renovado com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão do Ministério do Turismo responsável pelo Museu de Arte Religiosa e Tradicional, em agosto de 2019, com a intermediação da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção. Entre as competências, assumidas pelo Ibram no documento, estão a manutenção do edifício e do acervo sob sua cautela. A ação para a preservação dos três sinos do antigo Convento corresponde às exigências do acordo com a Arquidiocese e representa a execução prática da implementação do planejamento de gestão de riscos pelo Museu em consonância com as determinações nacionais e internacionais de proteção ao patrimônio.