O Museu Regional Casa dos Ottoni/Ibram recebe, entre os dias 2 de julho a 25 de agosto, a exposição temporária “Chica da Silva recebe Joana D’Arc: memórias que se cruzam no Caminho de Saint-Hilaire”.
Segundo a professora de história medieval da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e curadora da exposição, Flávia Amaral, a mostra dos registros das viagens pelo Brasil do botânico francês, Auguste de Saint Hilaire, pretende unir as cidades de Diamantina, Serro e Conceição do Mato Dentro, no Brasil, e a cidade de Orléans, na França.
Quem foi Auguste de Saint Hilaire
Saint’Hilaire nasceu em 1779 na cidade de Orléans, na França. Chegou ao Brasil em 1816 para realizar seus estudos e enviar amostras da flora local para os museus franceses. Como botânico, ele se interessava pelas formas e processos de ocupação e de exploração das terras, pelas produções agrícolas, pelo comércio e pelos costumes de diferentes populações.
Durante a viagem, ele percorreu os seguintes estados: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dentre os vários locais visitados, estão as cidades de Serro, Diamantina e Conceição do Mato Dentro.
Em sua passagem pelo Brasil, fez observações sobre a natureza nas antigas províncias da região sudeste. Também recolhia informações sobre o uso que os brasileiros faziam das plantas na medicina e alimentação, enriquecendo seus relatos com detalhes da cultura, geografia e antropologia dos lugares. Sua primeira obra foi “Viagem do Rio a Minas Gerais”, publicada em 1830.
Chica da Silva
Filha de um relacionamento extraconjugal do português Antonio Caetano de Sá e da escrava Maria da Costa, Francisca da Silva é uma das personagens populares na história do Brasil. Mulata e escrava, foi libertada por solicitação do contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, uma das pessoas mais ricas à época no Arraial do Tijuco, atual Diamantina.
Chica da Silva, após ter sido alforriada por João Fernandes de Oliveira, viveu como uma senhora rica e importante. Promovia festas em sua casa e ajudava a patrocinar as igrejas locais. Juntos, o casal teve treze filhos e todos receberam o sobrenome do pai e boa educação.
Como explica a curadora da exposição, Flávia Amaral, Chica da Silva é a matriz nacional da feminilidade negra e esse padrão estético ainda marca o imaginário publicitário. Ainda segundo Flávia, o problema do estereótipo é que ele cria realidade e fixa imagens. “Combater esses estereótipos, penso, faria emergir variadas experiências de vivência das mulheres negras”, conclui.
Para Flávia, a tentativa de branqueamento acompanhou os descendentes de Chica e o destino de seus filhos foi paradoxal. Houve ocasiões em que a fortuna que herdaram, assim como a importância do pai e dos ascendentes paternos, foram determinantes. Em outras, a cor que herdaram da mãe e sua condição de ex-escrava pesaram negativamente. “Por mais fluida que parecesse ser, a sociedade em que viviam ainda valorizava a situação de nascimento, estigma que era transferido por diversas gerações”, afirmou a curadora da exposição.
Joana D’Arc
Joana D’arc nasceu na França no ano de 1412 e morreu em 1431. Foi uma importante personagem da história francesa, durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), quando seu país enfrentou a Inglaterra. Joana D’arc foi canonizada no ano de 1920.
Quando era criança, presenciou o assassinato de membros de sua família por soldados ingleses que invadiram a vila em que morava. Com 13 anos de idade, começou a ter visões e receber mensagens, que ela dizia ser dos santos Miguel, Catarina e Margarida. Nas mensagens, ela era orientada a entrar para o exército francês e ajudar seu reino na guerra contra a Inglaterra.
Motivada pelas mensagens, cortou o cabelo bem curto, vestiu-se de homem e começou a fazer treinamentos militares. Foi aceita no exército francês, chegando a comandar tropas. Suas vitórias importantes e o reconhecimento que ganhou do rei Carlos VII despertaram a inveja em outros líderes militares da França. Estes começaram a conspirar e diminuíram o apoio de Joana D’arc. Em 1430, durante uma batalha em Paris, foi ferida e capturada pelos borgonheses que a venderam para os ingleses. Acusada de praticar feitiçaria, em função de suas visões, foi queimada viva na cidade de Rouen, no ano de 1431.
Mais informações sobre a exposição aqui.
O Museu Regional Casa dos Ottoni está localizado na Praça Cristiano Ottoni, 72 – Praia – Serro – MG.
Aberto ao público de terça-feira a sábado, das 10h às 18h; domingos e feriados, das 8h às 12h.