O óleo sobre tela Eternos caminhantes (1919, 138 x 184 cm), do artista lituano naturalizado brasileiro Lasar Segall (1889-1957), é a principal atração de exposição que a Städtische Galerie, da cidade de Dresden (Alemanha) abriu ao público no último sábado (15). O quadro integra o acervo do Museu Lasar Segall.
A mostra “Sinal para um novo início! O Centenário da Secessão de Dresden – Grupo 1919” (“Signal zum Aufbruch! 100 Jahre Dresdner Sezession – Gruppe 1919”) celebra o centenário do importante acontecimento na história da arte do século XX ocorrido em Dresden, cidade que foi essencial para a formação de Lasar Segall e onde o artista deixaria sua marca.
A Secessão de Dresden reuniu, no período efervescente e cheio de incertezas que a Alemanha viveu após a Primeira Guerra Mundial, um grupo de artistas engajados na busca de uma arte “interiormente verdadeira” e com preocupações sociais. À época, o cenário artístico de Dresden era mais fértil que o da própria capital alemã, Berlim.
Em busca de uma renovação artística e de valores, o grupo valorizava as artes gráficas, com destaque para a xilogravura e sua função como panfleto. Lasar Segall, que mudou-se para Dresden em 1910, onde frequentou a academia de artes local, foi um dos fundadores do grupo. A Secessão de Dresden já foi tema de exposição no Museu Lasar Segall.
“Sinal para um novo início! O Centenário da Secessão de Dresden – Grupo 1919” reunirá de novo em Dresden 80 pinturas e trabalhos em papel de doze artistas. A ideia, segundo os organizadores, é fechar um vazio na história da arte da cidade, já que poucas das obras produzidas pelos “secessionistas” permaneceram em Dresden até hoje, e despertar a consciência sobre o papel da arte durante mudanças políticas de grande relevo no século XX.
A obra
O quadro Eternos caminhantes tem, como os emigrantes que homenageia, uma vida repleta de aventuras dramáticas. Adquirida pelo Museu da Cidade de Dresden pouco após ser pintada por Segall, a tela – primeira obra de arte moderna incorporada pelo museu alemão – foi confiscada do local em 1933 após a ascensão do nazismo ao poder e exibida em Munique em 1937, junto a obras de outros expressionistas, na célebre Exposição de Arte Degenerada, que pretendia desqualificar a arte moderna.
Desaparecido durante anos, o quadro foi reencontrado apenas em 1954 no sótão de um ex-oficial nazista e adquirido em leilão na França para o acervo do Museu Lasar Segall em 1958, quando veio para o Brasil. Falecido em 1957, o artista nunca tornaria a rever a obra.
“Eternos caminhantes é uma das peças-chave, estará no centro de nossa apresentação”, explicou ao Museu Lasar Segall o diretor da Städtische Galerie, Gisbert Porstmann. Além do quadro, a exposição também exibirá as obras Retrato de Paul Ferdinand Schmidt, Retrato feminino de Mary Wigman, Autorretrato II e Criança morta, todas datadas de 1919 e pertencentes ao acervo do Museu Lasar Segall, que fez o empréstimo temporário. A mostra ficará em cartaz em Dresden até 15 de setembro