A Galeria do Lago no Museu da República (Ibram/MinC) inaugura, no próximo sábado (16) a instalação “Nada acabará, nada ainda começou”, do artista Raul Leal. A mostra, que tem curadoria de Isabel Sanson Portella, vai até o dia 28 de junho.
Tendo a figura de Nair de Teffé como fio condutor o artista vai apresentar trabalhos em pintura, texto e vídeo formando uma instalação que ocupará todo o espaço da galeria, que abriga projetos de arte contemporânea que fazem uma conexão com a história e o acervo do museu.
Em 26 de outubro de 1914 a então primeira-dama do Brasil, Nair de Teffé, organizou uma recepção nos salões do palácio do Catete onde foram executadas obras de compositores populares brasileiros, culminando com a apresentação do Corta-Jaca, maxixe da compositora Chiquinha Gonzaga. A repercussão foi a pior possível, abalando ainda mais a pouca popularidade do presidente Hermes da Fonseca.
Ruy Barbosa declarou que nosso governo estava prestando as mesmas honras que merecia a música de Wagner às expressões mais chulas da nossa cultura, o mesmo Wagner que execrou a música de outros compositores que não aderiam ao seu credo musical, condenando-os à clandestinidade e a um preconceito sobre suas obras que durou décadas.
A música de Catulo da Paixão Cearense e Chiquinha Gonzaga nos salões do Catete foi recebida com tanto estranhamento quanto os “objets trouvés” dos dadaístas nas exposições de arte na mesma época. Aquela música estava deslocada, ocupava um lugar que não era destinado a ela. Paralelamente, músicos negros, trabalhadores dos bairros da Saúde e da Gamboa, tentavam organizar clubes onde pudessem tocar sua música sem serem taxados de desordeiros e acusados de vadiagem, aquelas pessoas também estavam deslocadas dentro da sociedade.
Contemporaneamente o músico André Mehmari foi achacado numa apresentação para estudantes da rede pública por executar composições de Ernesto Nazareth. A cantora Rita Beneditto foi proibida de se apresentar num evento gospel patrocinado pela prefeitura de Campo Grande devido ao título de seu show ser “Tecnomacumba”.
Até onde esses movimentos de segregação e exclusão são processos de dominação? É certo que a música une, mas poderá também separar? Apesar de patrimônio imaterial, o legado musical brasileiro também está sujeito a processos de construção e destruição. Traçando paralelos entre esses eventos, criando atritos e conexões a mostra não pretende exibir respostas, mas sim criar perguntas e questionamentos.
Sobre o artista Raul Leal
Raul Leal é artista visual radicado no Rio de Janeiro. Participou de diversas exposições individuais e coletivas em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Artes de Blumenau e Museu de Arte de Ribeirão Preto. Recebeu prêmios em diversos salões de arte e tem trabalhos em importantes coleções.