Numa ação pioneira no universo museal brasileiro, o Museu da República/Ibram, no Rio de Janeiro, lançou neste segundo semestre o projeto PEJA, uma lacuna no museu, em parceria com a rede municipal de ensino da Prefeitura do Rio de Janeiro, através do Centro de Referência no ensino de jovens adultos-CREJA, e os CIEP’s Gregório Bezerra e Geni Gomes.
A iniciativa é um desdobramento de um outro projeto realizado pela instituição no ano passado, chamado Educação e Cidadaniae que conquistou o 5º Prêmio Ibero-Americano de Educação e Museus, tendo sido desenvolvido a partir da exposição comemorativa dos 70 anos da CLT. A premiação envolveu a seleção de projetos de excelência na área de educação museal em países de língua portuguesa e espanhola.
Projeto PEJA – uma lacuna no museu
Os estudantes do PEJA (Programa de Educação de Jovens Adultos) são o público-alvo desse projeto. São, em sua grande maioria, trabalhadores que por sua condição socioeconômica têm dificuldades de acesso a espaços culturais, como cinemas, teatros e museus. Foi pensando nisso que o Museu da República buscou viabilizar essa presença a partir do uso do dinheiro do prêmio conquistado ano passado (US$ 10 mil) e assim custear as despesas de transporte e alimentação dos participantes do projeto, bem como a confecção dos banners da exposição itinerante que percorrerá as escolas envolvidas.
Pioneirismo do projeto
De acordo com Marcelo de Souza Pereira, do setor educativo do Museu da República, um dos objetivos principais do projeto PEJA, uma lacuna no museu é trazer os alunos para dentro do Museu da República, estimulando – a partir de diversas ações – sua curiosidade e interesse voltados ao conhecimento da história da instituição e seu acervo, e também para o universo museal.
Marcelo fez questão de destacar que a importância do projeto reside em dois aspectos: um deles é a abertura do Museu da República à noite, que vai propiciar aos estudantes a chance de travar contato com novas realidades e novas informações, de um universo até então desconhecido e muitas vezes inacessível a este público. Importante também frisar é que essa será a primeira vez que muitas dessas pessoas estarão visitando um museu o qual, por sua vez, estará cumprindo sua missão de estar sempre acessível a todos os públicos, como ambiente de educação e promoção da cidadania.
Outro ponto a destacar nesta ação pioneira do Museu da República envolvendo os alunos do PEJA está ligado ao fato deles próprios poderem apresentar o museu a seus colegas. Isto será possível graças ao mini-curso de mediação, onde serão repassadas informações sobre o Museu e seu acervo, incluindo parte da história do período republicano. A mediação feita pelos estudantes acontecerá em dois momentos distintos: primeiramente, vão trabalhar mediando a exposição itinerante, composta de 15 banners enfocando o tema “trabalho”, a serem exibidos nas escolas de origem dos alunos. Posteriormente, vão conhecer o Palácio do Catete e mediar as visitas de seus colegas dentro dele.
A ideia de ter os estudantes do PEJA atuando como mediadores no Museu da República com seus próprios colegas foi da aluna Débora Lopes, do curso de pós-graduação em Educação Museal, museóloga e professora do CIEP Gregório Bezerra. Tal curso de pós-graduação resulta de uma cooperação técnica entre o Museu da República, o Museu Chácara do Céu e a FAETEC, via ISERJ (Instituto Superior de Educação Tecnológica). A ideia da mediação dos alunos foi aceita e incorporada ao Projeto PEJA, uma lacuna no museu, do Museu da República.
Dinâmica das atividades
As atividades, que tiveram início no dia 23 de setembro, vão se desenvolver no museu todas as quartas-feiras durante oito semanas, com duração de 4 horas por dia, de nove da manhã a uma da tarde. No primeiro módulo, estão previstas ações como o mini-curso de mediação, que vai trabalhar conceitos de patrimônio, memória, identidade e cidadania. No segundo encontro, a ideia é refletir sobre as diferenças entre patrimônio material e imaterial para, em seguida, encaminhar os alunos para o interior do Palácio do Catete, fazendo com que conheçam o espaço. Pelo fato de já estarem inseridos no mercado, o tema a ser abordado durante a visita será o “trabalho”, a partir do próprio acervo museológico. Serão apresentados aspectos ligados à própria construção do imóvel, além das leis trabalhistas implantadas no governo Vargas com a promulgação da CLT. Outro tópico a ser abordado está relacionado aos diversos profissionais que atuam dentro do Museu da República e seu jardim histórico (ambos tombados como Patrimônio Histórico e Artístico), como o educador, o museólogo, o pesquisador, o jornalista, o arquivista, o bibliotecário, o administrador, o jardineiro, os seguranças, o pessoal de asseio e conservação, etc. Portanto, em sua primeira parte, o projeto terá como foco principal o mini-curso de mediação museal. Após essa fase, as escolas serão convidadas a visitarem o Museu da República, ocasião em que os próprios alunos farão a mediação para os seus colegas de turma.
O Projeto PEJA, uma lacuna no museu vai até o final do ano, nas dependências do Museu da República.
Texto: Ricardo Portugal – Assessoria de Imprensa do Museu da República/IBRAM