Representantes do Ponto de Memória da Estrutural – DF reuniram-se nesta terça-feira, 10 de agosto, com 25 alunos do segundo semestre do curso de Museologia da Universidade de Brasília – UnB, para tratar do desenvolvimento do trabalho com a memória local que vem sendo realizado na comunidade a partir do Programa Pontos de Memória.
Na abertura da roda de conversa, os representantes comunitários relataram a história da Estrutural, marcada pela permanente luta pelo território, engajamento político dos moradores, conflitos com o poder público, especulação imobiliária, falta de infraestrutura e pelo lixão – que recebe diariamente dezenas de caminhões de lixo de todo o Distrito Federal, mas que também é fonte de renda de moradores da região.
Segundo Caroline Soares, socióloga e membro do conselho gestor do Ponto de Memória da Estrutural, o fato de a região ser um lugar de transição onde as pessoas vivem com a incerteza de serem removidas a qualquer momento dificulta a criação de vínculos com o lugar. “O sentimento de identidade com a Estrutural precisa ser construído, porque o problema não está nas pessoas, mas na ausência do Estado. E somos vistos pela população do DF como uma nódua, um problema a ser resolvido. Acredito que nosso ponto de memória, com toda nossa história de luta, nos ajudará a transformar o presente e principalmente o futuro. ”
O líder comunitário Adoaldo Alencar, conhecido como “Duda”, também aponta a falta de atenção do Estado. “A preocupação do governo sempre foi com a terra, não com a vida humana. Somos humilhados de todas as formas. Mas acredito que, se não desistirmos, o futuro pode ser favorável para todos que vivem lá. E essa ideia de museu é muito interessante. Entrevistando moradores, percebi o quanto as pessoas querem e têm muito a dizer ”.
Após conhecerem a proposta do Ponto de Memória, pautada no protagonismo comunitário e na apropriação da ideia de memória e museu como ferramentas de reconstrução da história e transformação social, a professora de Museologia Silmara Küster comprometeu-se em pensar junto aos alunos em diferentes formas de apoiar a iniciativa, sugerindo também a parceria com outros cursos da UnB para trabalhar, entre outras questões, a ambiental.
Os alunos de Museologia também manifestaram interesse em participar da oficina de Inventário Participativo, que deve ser realizada na Estrutural até o final de 2010, e ainda promover um “trote solidário” na comunidade durante a abertura da exposição fotográfica dos pontos de memória – Memória em Movimento, que deve percorrer as 12 localidades onde está sendo desenvolvido o projeto.
O encontro contou ainda com exibição do documentário “Brasília: uma questão estrutural”, que revela, a partir de depoimentos dos primeiros moradores, fatos históricos e problemas vivenciados pela população da Estrutural, como a constante ameaça de retirada das famílias da região e a discriminação pela população do DF e pela mídia.
Segundo Silmara Küster, a parceria entre universidades e pontos de memória foi estimulada pelo Ibram/MinC, por meio do diretor do Departamento de Processos Museais, Mário Chagas, durante o Encontro dos Professores de Museologia realizado no 4º Fórum Nacional de Museus, em Brasília.