O Ponto de Memória da Estrutural (DF) realizou no último sábado, 4 de dezembro, na Casa dos Movimentos, sua primeira ação museal na comunidade – um café-da-manhã acompanhado de uma roda de contação de histórias sobre a região.
O evento permitiu que moradores pioneiros, como Geralda Dias e Elias Mendes, revelassem detalhes sobre como a população fazia há vinte anos para resistir e sobrevier diante da constante ameaça de remoção. “Não podíamos sair de casa nem para trabalhar, porque corríamos o risco de ter tudo derrubado. Mesmo com todas as dificuldades éramos unidos e felizes”, enfatiza Elias.
Para ele, o ponto de memória é a oportunidade de a Estrutural desenvolver um trabalho que não conte apenas fatos políticos, mas reflita a comunidade. Os moradores querem criar um museu que mostre experiências e vivências antigas e que deram origem à comunidade, mas também abrir espaço para os hábitos atuais dos moradores, sejam eles crianças, jovens, adultos ou idosos.
“Nossa ideia é fazer um museu vivo, no qual as escolas possam trazer seus alunos para fazer pesquisas, mas também onde os moradores possam contar suas histórias e divulgar suas experiências de vida”, destaca Abadia Teixeira, líder comunitária e membro do conselho gestor do Ponto de Memória da Estrutural. Durante o evento, ela enfatizou a função positiva que o museu pode ter na comunidade e lembrou a importância do projeto dar certo na região para poder ser levado a outras localidades do País.
A valorização da memória ajuda não apenas a preservar a história dos moradores, mas também a unir a comunidade em torno de objetivos comuns na busca pelo desenvolvimento local. “Os moradores da Estrutural sempre receberam coisas materiais, principalmente vindas de políticos. Mas não adianta só receber, é preciso aprender como tudo aconteceu para despertar na comunidade a vontade de retribuir e de fazer algo pelo outro”, defende a moradora Clara Soraia Ribeiro.
Felizes por poderem contar a história da cidade pelo ponto de vista de quem dela participou, os moradores prometeram doar fotos e objetos relevantes para descrever a trajetória da comunidade. A “roda de memória” foi gravada e, segundo o conselho gestor do ponto de memória, integrará o acervo do futuro museu.
Programa Pontos de Memória
Desde 2003, o Instituto Brasilieiro de Museus – Ibram/MinC apoia iniciativas de memória, que ajudam a fortalecer as comunidades a partir do reconhecimento de suas raízes históricas. “É importante fazer com que as experiências de memória tenham vida, tenham voz. As pessoas se sentem valorizadas. Se alguém não escreve sua história, ela será escrita por outra pessoa”, destaca Marcelle Pereira, coordenadora de Museologia Social e Educação do Ibram.
Atualmente, o Ibram é parceiro em 12 projetos-pilotos nas cinco regiões brasileiras. A idéia é auxiliar, por meio de apoio técnico e de consultorias, iniciativas existentes ou novas experiências comunitárias de grupos envolvidos em ações de preservação da memória local.
Além da Estrutural (DF), há pontos de memória em Belém, PA (Terra Firme); Belo Horizonte, MG (Taquaril); Curitiba, PR (Sítio Cercado); Fortaleza, CE (Grande Bom Jardim); Maceió, AL (Jacintinho); Porto Alegre, RS (Lomba do Pinheiro); Recife, PE (Coque); Rio de Janeiro, RJ (Pavão- Pavãozinho-Cantagalo); Salvador, BA (Beiru); São Paulo, SP (Brasilândia) e Vitória, ES (São Pedro).
Os projetos são resultado de parceria entre os programas Mais Cultura e Cultura Viva, do Ministério da Cultura (MinC); o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça (MJ); e a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI).