Ministrante do curso Gestão de Risco ao Patrimônio Musealizado Brasileiro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC), entre os dias 8 e 12 de julho, José Luiz Pedersoli Junior é químico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Mestre em Química de Polímeros, com ênfase em materiais celulósicos e aplicações na área da conservação patrimonial, pela Universidade de Helsinki (Finlândia).
![photo_pedersoli](http://antigo.museus.gov.br/wp-content/uploads/2013/07/photo_pedersoli-199x300.jpg)
Morou durante muitos anos na Europa, inicialmente em Amsterdã, quando trabalhou como cientista da conservação no Instituto Holandês do Patrimônio Cultural, e depois em Roma, no Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração do Patrimônio Cultural (ICCROM).
Voltou ao Brasil com uma importante experiência na área da ciência dos materiais aplicada à preservação patrimonial, mais especificamente à conservação de acervos de papel e materiais relacionados, com vários trabalhos científicos publicados em revistas especializadas.
Essa experiência profissional inclui também o desenvolvimento, coordenação e ensino em cursos nacionais e internacionais voltados à capacitação profissional no setor patrimonial.
O químico respondeu por e-mail a três perguntas feitas pela Assessoria de Comunicação do Ibram.
Qual a importância da implementação de um plano na área de gestão de riscos para os museus?
A gestão ou gerenciamento de riscos constitui ferramenta eficaz para aprimorar a tomada de decisões dirigidas à preservação do patrimônio cultural. Sua utilização fornece uma visão abrangente dos diversos tipos de risco para esse patrimônio, desde eventos emergenciais e catastróficos até os diferentes processos de degradação que ocorrem de forma mais gradual e cumulativa.
A partir da identificação e análise sistemática desses riscos, é possível estabelecer prioridades de ação e alocação de recursos para mitigá-los. Estratégias sustentáveis podem então ser estabelecidas para minimizar impactos negativos sobre o objetivo comum dos museus de transmitir seus acervos para as gerações futuras com a menor perda de valor possível. Otimizando o uso dos recursos disponíveis, tipicamente limitados, para a preservação, segurança e fruição dos acervos museológicos, a gestão de riscos contribui para maximizar a utilidade e benefícios sociais dos mesmos ao longo do tempo.
A implantação do gerenciamento de riscos na comunidade de museus do Ibram também contribuirá de forma significativa para harmonizar e incrementar a eficiência de iniciativas e esforços já existentes voltados à salvaguarda de seus acervos, assim como para fomentar sinergias em ações futuras, proporcionando uma plataforma de trabalho bem estruturada, uma linguagem comum e uma metodologia adequada ao compartilhamento e integração dos conhecimentos e experiências específicos detidos pelos diferentes museus. O uso dessa ferramenta estimula, ainda, a integração interdisciplinar e intersetorial com profissionais e instituições de áreas afins.
Diante do contexto internacional, como você avalia a atuação dos museus brasileiros?
A atuação dos museus brasileiros na área da gestão de riscos e segurança de seus acervos reflete, a meu ver, um universo bastante heterogêneo, com algumas instituições já significativamente avançadas nesse aspecto e outras onde falta ainda implementar requisitos básicos para a proteção do acervo frente aos riscos que os ameaçam.
Observo uma tendência positiva no sentido da conscientização e adoção crescente de medidas de conservação preventiva, o que vem sendo fortalecido com iniciativas de capacitação como este curso realizado pelo Ibram. Contudo, para lograrmos uma melhoria significativa contemplando todo o patrimônio musealizado brasileiro, seria necessário amplificar esses esforços e proporcionar os recursos para que as medidas de segurança necessárias possam ser implantadas de forma sustentável.
Quais as etapas fundamentais que uma instituição precisa para iniciar a elaboração de uma Plano de Gerenciamento de Riscos para o seu acervo?
Antes de mais nada, é fundamental haver vontade política para fazê-lo e uma definição bem clara da missão e dos objetivos da instituição no tocante ao uso do acervo sob sua guarda. Outro fator essencial é o envolvimento e participação proativa de toda a equipe do museu ao longo de todo o processo.
Obviamente, devem estar disponíveis os recursos mínimos para a implantação das medidas propostas no decorrer da execução do Plano. É essencial garantir, desde o início, que o Plano será um documento “vivo” na instituição. As etapas para a elaboração do Plano envolveriam, primeiramente, a constituição formal de uma equipe ou grupo de trabalho na instituição com papéis e responsabilidades bem definidos, com tempo disponível para a execução do projeto.
Observados esses aspectos, temos sugerido que o desenvolvimento do Plano de Gerenciamento de Riscos seja estruturado segundo as etapas consecutivas do processo de gerenciamento descrito na norma técnica ISO 31.000:2009, que incluem: 1) estabelecer o contexto, 2) identificar os riscos, 3) analisar (quantitativamente) os riscos, 4) avaliar e priorizar os riscos, 5) tratar (reduzir) os riscos segundo as prioridades estabelecidas.
Todas essas etapas são permeadas pela comunicação e consulta com todas as partes interessadas e atores relevantes ao processo, assim como pelo monitoramento e revisão dos aspectos relevantes em cada uma delas.
É importante lembrar que o gerenciamento de riscos é uma processo contínuo, visando à eliminação ou redução e contenção dos riscos para o acervo a níveis aceitáveis para a instituição. Dessa forma, é importante que essa ferramenta seja integrada de forma permanente ao sistema de gestão da organização para garantir seu uso continuado e, assim, alcançar com sucesso os objetivos propostos.
Edição: Ascom/Ibram
Foto: Divulgação
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